sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Lírica

Oh, bela princesa. Tão suave e meiga, pele da cor morena, bronzeada pelo sol, como que revelando às vistas do mundo o mel que se esconde dentro de teu coração, fonte da tua doçura. Tua pele é única, te prometo, apesar de todos os progressos da dermatologia hodierna. E teus lábios... teus lábios são a caracterização perfeita da fonte da paz e da tranquilidade, um bom lugar para repousar um coração varão cansado da grande sequência de agruras que lhe são postas ao café da manhã, almoço e jantar... e chá das cinco, se fosse eu inglês... teus cabelos negros, lisos e belíssimos derramam-se pela beleza de teu colo como orvalho matinal, querendo embelezar a primavera, despertando o perfume das mais belas flores. Teu corpo é o de uma deusa grega, belíssimo e esculpido com o máxime do capricho das mãos dos grandes deuses criadores, com suas formas perfeitas, tamanho ideal, curvas que despertam a volúpia deste pobre poeta que vive a sonhar com o desfrute de teus encantos, para que se sinta completo e pleno de vida e poder. A beleza de teu caminhar é ímpar, capaz de despertar a inveja do bater de asas das mais belas borboletas... parece que o sol nasceu hoje apenas para aguardá-la, impaciente, sair para teus compromissos matinais... e parece que se esconde para chorar tua ausência, enquanto dorme iluminando a própria lua.

Não é possível, mulher, tens que ter mau hálito!!

Minha adolescência...

Olhar antigas fotografias é um exercício interessante. Porém, ele está relacionado com o momento que tu vives enquanto pessoa. Se estás triste, terás recordações saudosas, dolorosas, às vezes amargas. Amaríssimas. Ao revés, se estás feliz, tudo se constitui numa bela viagem a velhos sonhos dourados. Não é?

Não tenho muitas fotos de adolescência. Aliás, quase nenhuma. Digamos que as fotografias são flashes de minha memória, que não se eternizarão jamais, posto que, quando findar minha estrada, findarão estas fotografias da alma.

Okay. Não houve muito o que fotografar. Não pelo tempo passado, mas pela falta de dinamismo mesmo. Não tive muitos amigos, não tive nenhum amor, fui um verdadeiro Brás, de Assis, que passou despercebido pela fatia suave da vida, enquanto pululavam lampejos de sonhos em minha cabeça.

Não era precoce, pois. Pelo contrário.

A vida passou e me vejo velhinho, apesar de ainda lembrar das fotografias, meio apagadas pelo cansaço, pela substituição por outras imagens. Resta-me apenas lamentar por mim, e orar pelos jovens de hoje, exortando-os a aproveitar o que não fiz. De forma sadia.

E tu saíste com mais de 20 caras? Minha velha, não me mates!

Caro Papai Noel,

Venho através desta pedir encarecidamente ao senhor algo muito especial.

Acontece que os últimos tempos têm sido difíceis. Pra dizer a verdade, nem lembro direito que dia é hoje, ou onde estou, ou pior, por que estou.

Só sei que está perto do Natal porque vi em algum lugar uma propaganda daquela bebida de rótulo vermelho, a... a... Coca Cola, não é?

Daí lembrei que costumava escrever para o senhor quando era inocente. Claro que nem sempre podia atender, e quando respondia por escrito, tinha uma letra muito parecida com a do meu papai de verdade.

Quem sabe não pode me atender agora?

Vou deixar esta carta no correio, bom velhinho. Ouvia dizer que eles sabem onde entregar.

Meu pedido é simples, Papai Noel. É para que eu possa fazer as escolhas certas, sem pressões, sem medos, sem desespero, sem angústia, sem inquietude. Talvez até errar, mas errar diferente, me sujar menos, me sentir menos podre e fétido.

Quero meus últimos anos de volta, Papai Noel.

Não me atenda.