terça-feira, 4 de setembro de 2007

Destinos iguais

Hoje parei para ouvir pássaros cantando. Andei pelo jardinzinho de minha pequena chácara e parei para meditar um pouco, ouvindo apenas o som do vento, tão comum nas pequenas cidades, tão constante nas pequenas propriedades... junto com o vento, a brisa fresca de final de tarde, o gorjeio dos passarinhos, voando despreocupados, sem destino certo, pousando nos galhos das pequenas árvores de meu quintal. Vi-me em face de um quintal de sonhos, um lugar gostoso, onde posso despir-me da dura realidade de uma vida adulta cheia de responsabilidades e repleta de duras marcas e tragédias...
Eis que olhei para cima, num pequeno galhinho vi um canarinho e uma canarinha... trocavam leves bicadinhas repletas de ternura, e comecei a pensar... aquele amor natural, sem os vícios da humanidade moderna, repleto de pureza, ternura e tranquilidade... um mistério tão grande, como se aqueles dois pequenos seres, que passam despercebidos pelos olhos da humanidade, estivessem - como julguei que de fato estavam - estivessem trocando confidências, trocando juras de amor eterno, desfrutando do amor no maior grau de pureza possível... longe da maldade que só os seres humanos têm e carregam.
Aquela cena, unida à beleza do fim de tarde no campo, me trouxe grande paz e tranquilidade...
Via, ali, no meio de tanta ternura, minhas prórpias recordações de infância, meu primeiro amor, o grande toque de pureza que revestia nossos lábios, nossos beijos... algo imune à dor, à crueldade, um sentimento que representava uma verdadeira fuga para um lugar bom e tranquilo... a grande e eterna busca humana pelo bom e tranquilo...
Porém, como num passe de mágica, percebi o vôo rasante de um gavião sorrateiro... via sua presa, ali, à sua mercê... à sua inteira disposição... e tomou-lhe posse... agarrou a canarinha pelo bico, de maneira forte, dura, vil, encerrando aquele breve momento de felicidade do pobre casal de canarinhos, enquanto caía a noite impiedosa...qual seu objetivo, não sei. Para onde voou, com a canarinha presa ao bico encurvado, não vi.
O canarinho, num instinto de sua natureza, como que dotado de razão, percebendo que estava sendo ceifada sua felicidade, voou desesperado atrás do malfeitor gavião... batia as pequenas asinhas buscando se aproximar do mesmo... porém, o animal negro, com suas grandes e fortes asas, voava cada cez mais rápido e mais alto, evadindo-se da vista do pobre canarinho, e da minha também... era o final forçado daquele momento áureo...
Olhava, e chamou-me a atenção que o canarinho, coitado, voltou ao mesmo galho onde estava com a canarinha, antes daquilo que ocorreu... voando cansado, vagarosamente, triste, como que dotado de razão para saber que seu amor não mais volta... em toda a sua pequenez, regozijou-se, parado no galho, como que lamentando o que aconteceu...
Talvez pelo efeito da brisa... creio que notei molhados os cantinhos dos pequenos olhos do canarinho solitário... naquele momento, imaginei que ele sabia realmente que seu amor não mais volta, que veio a fatalidade e retirou-lhe aquela felicidade tão grande, aquela paz tão simples que viveu...
Nessa hora, apertou-me o coração e comecei a chorar sozinho, sem perceber, no jardim de minha pequena chácara. Chorei, pois, por piedade do pobre canarinho, que ficou sem o seu bem maior, perdendo assim sua própria razão de existir... nem os canarinhos são capazes de viver sozinhos... chorei pois tive saudade, daquela felicidade que o destino me roubou... tal como o gavião roubou a felicidade do canarinho... desde que se foi o meu primeiro e único amor, meu viver nesta pequena casinha também é solitário... hoje eu sou igual a esse canário... e espero a hora de reencontrar-me com o meu amor, junto de Deus.
(meus agradecimentos a Ariowaldo Pires e Laureano, compositores da belíssima canção "Destinos iguais", que serviu de base para a produção desta pequena crônica)

2 comentários:

Rafael Guerreiro disse...

Muito boa sua crônica, Tiago! Continue!!!

Rafael Guerreiro disse...

Caramba, vê se coloca o meu link ae!!!!hehehe!